quarta-feira, 3 de abril de 2013

Artigo: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA Prof. Dr.: Antonio Lindvaldo Sousa Aluna: Karla Jamylle Souza Santos “Um olhar icnográfico sobre o entorno do Quadrado de Pirro: analise história do centro Histórico de Aracaju (1855- 1940)” I-INTRODUÇÃO: O presente artigo tem como objetivo divulgar e tornar claro os acontecimentos, que ocorrem na história de Sergipe em especial da capital, desde a mudança de São Cristóvão para Aracaju e em que esta mudança contribuiu para o desenvolvimento social, político e econômico da população sergipana. A mudança da capital ocorreu em 17 de março de 1855, com a transferência da sua sede provincial de São Cristóvão para Aracaju. A princípio houve resistência da população de São Cristóvão que não concordavam com a mudança, mas com o passar dos anos acabaram aceitando mesmo sobre protesto. De acordo com o relato de Maria Thétis Nunes: Só seriam registrados protestos legais da Câmara Municipal de São Cristóvão à Assembléia Legislativa Provincial contra a transferência das sessões para o povoado do Aracaju, e uma representação a ser encaminhado ao Imperador Pedro II contra o ato. Pacíficas manifestações populares aconteceram em São Cristóvão criticando os responsáveis pelo o ato da mudança da capital da vetusta cidade, fundada após a conquista de Sergipe por Cristóvão de Barros. (2006, p.128). A nova capital da província enfrentou muitas dificuldades no início de seu povoamento, por não ter muitas casas apenas sítios isolados de povoação. A partir da drenagem e aterro dos pântanos e charcos na região atualmente localizada entre as praças Fausto Cardoso e General Valadão, o Presidente iniciou a construção dos primeiros edifícios: a alfândega, o palacete provisório para sediar a presidência, o quartel para a Polícia, e, com contribuições particulares, inclusive dele, a Casa da Oração, de pequeno tamanho, para as práticas religiosas enquanto a Matriz Nossa Senhora da Conceição não estivesse concluída, tendo sido lançados os alicerces. (Idem, 2006, p.144). Na escolha de Aracaju para ser a sede da província foram levado em consideração a sua posição geográfica, que ficou próximo ao mar, tendo a Ponte do Imperador como porto hidroviário e aeroviário que recebia as embarcações e as aeronaves que aqui chegavam trazendo seus ilustres visitantes, dentre eles D.Pedro II e a Princesa, o presidente Washington Luiz e os filhos ilustres de Sergipe. A Resolução de 17 de março de 1855, transferindo a capital para o povoado de Santo Antônio do Aracaju, não seria um ato impetuoso do Presidente, mas planejado objetivamente dentro da realidade do momento em que vivia o país, assim evidenciam as medidas que vinham sendo tomadas por ele através do ano de 1854 aparelhando o povoado do Aracaju para a posição que lhe estava destinada. (Ibidem, 2006, p.134). Os terrenos nos quais estava situada a nova capital pertenciam a várias personalidades que faziam parte da vida política e econômica de Sergipe, como as famílias Furtado de Mendonça e Rollemberg, mais o maior proprietário de terras era Luiz Francisco das Chagas, o Luizinho como era conhecido. Essas terras de Luizinho foram adquiridas através da regulamentação da posse requerida ao Presidente da Província, em 1854 e também por meio de herança. Ele residia no Sitio Olaria, que se estendia desde a região na qual atualmente está situado o centro da capital do Estado de Sergipe até o riacho Tramandai, onde atualmente está a Avenida Francisco Porto. Dentre os vários sitio que pertencia a Luizinho vale destacar o Sitio Aurora que emprestou o nome com o qual foi batizada a Rua da Frente, a Rua Aurora. Antes que a Rua da Frente fosse aberta o lugar era conhecido como Costa do Cessa Farinha. Num outro sítio, do qual Luizinho também era dono, localizado na área onde atualmente está a Rua de Estância, nas proximidades da Rua Itabaiana, vivia José Albino de Moura. Na região em que foi construído o edifício da Escola Normal, no início do século XX (atual Centro de Turismo), havia outro sítio no qual residia Gustavo Próspero Travassos, propriedade do mesmo Luiz Chagas. Além disso, ele era dono de um quinto sítio na região chamada Padre Soares, que fazia limite com a Jabotiana e com as terras de Carlos Cruz.(NASCIMENTO, 2010, p.20-21) Foto: Rua da Aurora (antiga) Foto: Rua da Frente (atual) Fonte: MEDINA, Ana Maria Fonseca Fonte: Arquivo Pessoal 2-Do Fundador da Nova Capital O fundador da cidade, Inácio Joaquim Barbosa, decidiu que esta seria diferente de todas outras “irmãs mais velhas”, tendo como engenheiro o Capitão de Engenheiros Sebastião José Basílio Pirro designado para a construção da cidade planejada. Segundo consta no relato de Nunes: O capitão de Engelharia Sebastião José Basílio Pirro, já vivendo em Sergipe desde 1848, que elaborou a primeira planta de Aracaju (texto n° 3), “um traçado em xadrez”, e “ dentro de um quadrado de 540 braços de lado estavam traçados quarteirões iguais, de forma quadrada, com 55 braços de lado, separados por ruas de 60 palmos de largura. Como se vê, o supra-sumo da simplicidade e do rigor geométrico.” ( 2006, p.144). O trabalho que foi desenvolvido pelo o engenheiro recebeu a denominação de “quadrado de Pirro”, utilizado para designar a forma com que foi planejada a nova capital, forma esta associada a um tabuleiro de xadrez. A única alteração que sofreu o plano de Pirro foi imposta pelo próprio Presidente Barbosa ao curvar a reta da Rua da Frente à suprema necessidade de incentivar as edificações da cidade. A reta de Pirro estaria, para sempre, em chocante contraste com a ampla curva que faz o rio em frente à cidade e o seu ponto final, ao sul, ficaria distante mais 200 metros da praia. Foi uma sorte a lembrança do Presidente. Em vez de uma reta fria e inflexível, sem perspectiva, ganhou a cidade uma bela avenida, acompanhando o Sergipe e que pode ser admirada, em toda a sua extensão, de qualquer de seus pontos. (Ibidem, 2006, p.155). Ao solicitar a alteração, o presidente Inácio Barbosa queria incentivar a construção de edificações e assim aproximar a população que ali residia do Cotinguiba e logo a frente da Praia Formosa que fora bastante frequentada e foi onde o submarino alemão atracou no período da Segunda Guerra Mundial e hoje se chama Praia 13 de Julho muito diferente do que fora em outrora tomada por uma grande poluição fruto dos dejetos de esgoto da cidade, mais que continua sendo frequentada por todos para caminhadas e diversão fato que redeu a cidade o título de “melhor qualidade de vida”. O local é um dos pontos que sofreu maior especulação imobiliária nas últimas décadas, com suas imensas mansões de fino acabamento, requinte e luxo, que embelezam cada vez mais a Avenida Beira Mar. Foto: Praia Formosa (antiga) Foto: Praia 13 de julho (atual) Fonte: empactotreze.blogpot.com Fonte: viajenaviagem.t35.com O Cotinguiba foi palco de imensas festas dentre elas do São João e Carnaval que durante muito tempo fora feito lá, sobre os olhares das classes dominantes que ali freqüentavam num momento de pura diversão. Foto: Cotinguiba antigo Foto: Cotinguiba atual Fonte: Anita Sotero Fonte: Arquivo pessoal II- DESENVOLVIMENTO 1-O mercado e a vida boemia dos aracajuanos O centro de Aracaju fazia parte da vida boemia dos aracajuanos, principalmente no período noturno nas imediações do mercado Thales Ferraz durante décadas. O Mercado Central de Aracaju foi, durante duas décadas, o maior e mais completo centro popular de Aracaju. Dividido em três mercados (Thales Ferraz, Antônio Franco e o novo Albano Franco). O Mercado que inicialmente tinha sua estrutura feita em madeira, foi reformado pela primeira vez em 1910, passando a ser de ferro. Novas reformas ocorreram em 1920 durante as comemorações do centenário da independência do Estado de Sergipe. Segundo o Historiador Luiz Antônio Barreto , “essa obra foi chamada de Mercado Antônio Franco, nome do empresário que investiu em sua construção”. Somente na década de 1940, adquiriu a estrutura atual. http://www.infonet.com.br/aracaju/2008/images/mercado De 1994 a 2002 sofreu novo ajuste e a construção do prédio novo, Albano Franco, área de abastecimento de frutas e verduras. Antes, ele era um mercado comum, com estabelecimentos com ferragens, alimentos e bares. Mas, hoje, têm entre seus produtos o artesanato, as roupas e as comidas típicas. Fonte: vinicius-turismo.blogspot.com Fonte:totinhoaracaju.blogspot.com Os novos prédios do Mercado estão localizados onde antes ficava o porto de Aracaju, lugar de saída e chegada de barcos e saveiros que iam e vinham do interior do estado com passageiros e mercadorias. Atualmente, mercado também reserva espaço para os bares e restaurantes, que oferecem um cardápio típico da região. O pirão de capão é o prato mais apreciado, junto com a carne de sol, o churrasco e o bacalhau. O Mercado Central de Aracaju mantém sua arquitetura original, em estilo colonial espanhol, mas, depois de uma reforma, passou de um mercado normal, para uma importante atração turística da capital sergipana. Dentre as atrações do Mercado Central de Aracaju merecem destaques: a carrocinha de João Firmino Cabral, com 68anos de idade, vende literatura de cordel a mais de 50 anos. Ele faz literatura de cordel desde os 16 anos tem centenas de títulos publicados; a frente da banca de cordel pode-se encontra uma antiga dupla de repentistas; no mercado pode-se encontrar um espaço destinado a preservação da cultura popular, a Rua da Cultura, onde ocorrem shows com bandas locais, e o famoso Forró Caju, espaço de comemoração das festas juninas que recebe famosas bandas de forró e também os forrozeiros tradicionais do pé de serra durante toda a segunda quinzena do mês de junho. Mas o no cotidiano do Mercado central de Aracaju, o que mais se destaca são as barracas onde, são expostos e vendidos todos os tipos de produtos artesanais do estado de Sergipe, além da diversidade culinária, o corredor das flores e ainda uma parte do prédio destinada à venda de frutas e verduras. Fonte: aamigus.com Após uma, pesquisa mais aprofundada, foi possível encontrar, o Regulamento para o serviço do Marcado Municipal de Aracaju. Publicado no Jornal “Diário Oficial”, no dia 01 de janeiro de 1928. Nesse regulamento constata-se que o Mercado Municipal de Aracaju, foi criado com o intuito de servir de espaço para a venda de gêneros alimentícios, mais sendo permitida também, a venda de artigos de comercio. Esse regulamento foi elaborado em 27 de dezembro de 1927, por Theophilo Corrêa Dantas, o intendente municipal de Aracaju, no Gabinete do mesmo, e foi publicado, no Jornal “Diário Oficial”, pelo secretario do intendente, Hermenegildo Leão dos Santos. A estrutura do Regulamento está disposta da seguinte forma: Dividida em dois capítulos, onde o capitulo de numero um, que contem 22 Art., irá tratar de esclarecer, as normas de funcionamento do estabelecimento; já o capitulo dois que corresponde aos Art.23 a 29, e fica incumbido de explicar as Atribuições do Administrador, e as Disposições Gerais. No regulamento do Mercado Municipal de Aracaju é possível destacar que, o Mercado era composto por divisões, de acordo com o que seria comercializado em cada espaço. Existiam divisões para artigos de armarinho, gêneros de estivas , açougues, peixes. Esses comercializados nos compartimentos que formam as quatro faces do mercado, interna e externamente. Nas demais divisões centrais, do mercado, eram comercializadas, artigos do gênero alimentício como: farinha, milho, arroz, batatas, frutas, legumes, hortaliças, aves e fressuras . Quanto ao horário de funcionamento do Mercado Municipal de Aracaju, segundo o Regulamento de 1928, o Mercado estava aberto ao publico das 05 horas e 30 minutos da manhã às 17 horas e 30 minutos da tarde, sendo que a abertura e o encerramento do comercio no Mercado, era anunciado por toques de sineta. O Mercado era dirigido por administrador, nomeado pelo intendente do Município. O intendente tinha como função, fiscalizar a parte interna e externa do Mercado Municipal, expedir ordens aos demais funcionários do Mercado. Dentre esses funcionários estão os cobradores fiscais, cobradores de impostos, guardas, serventes, o administrador, o escriturário e diaristas. O Mercado era lavado e varrido diariamente, às 17 horas e 30 minutos da tarde, após o encerramento do expediente. E segundo o Regulamento do Mercado, era de responsabilidade de cada comerciante, lavar e manter limpo os seus estabelecimentos. Já a parte central (corredores e passagens) e os espaços não locados, eram de responsabilidade dos serventes do Mercado, manter-los lavados e varridos. É importante salientar que no Art. 8º, do regulamento do Mercado, está descrito que “os lacotorios de compartimentos ocupados por açougues farão lavar com potassa as respectivas paredes, pelo menos uma vez por semana, no dia designado pelo administrador”. Já no Art. 10º e possível observar que era obrigação dos comerciantes que, os balcões ou bancos onde seriam expostos os produtos, que seriam adquiridos, a partir de quantidades medidas por balanças, pesos e medidas, que esses, estivessem dispostos nos balcões, de forma que o comprador pudesse verificar o que e quanto (quantidade) estava sendo comprado. Os vendedores que comercializavam na ária central do prédio tinham a permissão, para vender seus produtos, apenas até as 17 horas, sendo obrigados, a deixar os locais ocupados, varridos e limpos, após o expediente. Quanto aos comerciantes volantes, esses tinham a obrigação de retirar suas mercadorias, logo que se encerrasse o movimento do Mercado, geralmente às 17 horas e 30 minutos. No Art. 13º do Regulamento do Mercado, esta claro que a locação (aluguel) de açougues, compartimentos e outros lugares do Mercado, eram feita por mês, e o pagamento deveria ser adiantado, ou feito diariamente. Ainda no primeiro capitulo do regulamento do Mercado municipal, mais especificadamente nos Arts. 15º e 16º, foram descritos, vinte tópicos, correspondente ás proibições do estabelecimento. Dentre essas proibições destacam-se: a proibição da entrada de cães, e quaisquer animais vivos, exceto aqueles cuja venda seja feita, para o consumo humano; atravessar ou percorrer o mercado com objetos que interrompam a passagem de pessoas; sentar eu parar em lugares destinados a circulação e movimentação de pessoas e mercadorias; utilizar-se de gritos ou vozerias, para anunciar os preços e os artigos à venda no Mercado; utilizar palavras ou se comportar de modo inconveniente a decência, moralidade e ordem publica; proibida também, a presença de músicos, cantores, ambulantes e saltimbancos , nas áreas centrais do Mercado; era estritamente proibido deixar ou jogar, nos lugares destinados ao trânsito de pessoas e mercadorias, papeis palhas e outros resíduos; proibido, ter no chão dos açougues e dos compartimentos destinados à venda de mercadorias, aves mortas, peixes estragados, mercadorias avariadas e outros resíduos prejudiciais a saúde publica; vender gêneros alimentícios falsificados ou roubados; lesar ou tentar lesar o comprador, quanto aos pesos, medidas e quantidades das mercadorias; é proibida a presença de loterias e jogos; proibido rasgar ou inutilizar os editais colocados no mercado, por ordem da Intendência; sujar, desenhar ou borrar os muros, ferros, paredes, tanto da parte interna quanto da parte externa do Mercado; fixar de cartazes nas paredes o mercado; danificar qualquer objeto pertencente ao estabelecimento; brigas, gritos, queixas, cantigas e outras coisas que perturbem a ordem; deixar crianças correr, brincar, ou serem abandonadas no prédio do mercado e em suas dependências; perturbar ou ameaçar aos agentes e autoridades particulares; era estritamente proibido, apropriar-se de objetos que não lhe pertencesse, e que fossem encontrados nas imediações do Mercado. Esses objetos deveriam ser integres na administração do Mercado, para que, caso o dono voltasse, ao estabelecimento, a procura do objeto perdido, esses fosse entregue ao dono. Pode-se mencionar que é de grande relevância o que se estabeleci no Art. 17º do Regulamento do Mercado Municipal. Esse esclarece que os patrões, deveriam evitar que seus filhos, parentes e empregados desobedecessem às disposições regulamentares, sob pena de responsabilidade, pelos danos causados ao Mercado, e sendo vetada a entrada dos mesmos. O regulamento ainda esclarece, em seu primeiro capitulo que cada vendedor, era obrigado a ter em seu compartimento, uma caixa apropriada, ou um caixão forrado de zinco, para recolher o lixo e, após o lixo recolhido, o mesmo deveria ser levado para fora do mercado, na hora do encerramento do expediente (17h30min). Partindo para as informações existentes no Capitulo II do Regulamento para o serviço do Mercado Municipal de Aracaju, mais especificadamente para as “Atribuições do Administrador”, pode-se observar que no Art. 23º do regulamento, foram descritas, às funções competentes ao Administrador no Mercado. Dentre essas funções destacam-se: dirigir e fiscalizar todo o serviço, cumprindo e fazendo cumprir as leis, regulamentos, instruções, e ordens em vigor; tinha como obrigação manter a policia do estabelecimento, e impor as multas previstas, aos que infringirem as disposições concernentes ao Mercado (mas as punições, equivalentes a suspensões da profissão e proibição da entrada no estabelecimento, eram de responsabilidade do intendente Municipal); manter o edifício e suas dependências no maior asseio possível; admitir, suspender ou dispensar os serventes, de acordo com as ordens do intendente; conservar em dia a escrituração dos livros, o seu cargo, e apresentar o boletim diário referente ao serviço de arrecadação; solicitar do intendente todas as providencias e medidas necessárias à boa ordem e conservação do Mercado; responder pelo serviço de arrecadação de impostos e taxas, fiscalizando-os por todos os meios que se tornarem necessários; recolher diariamente á tesouraria da Intendência, na forma determinada pelo regulamento, as quantias arrecadas, acompanhadas das competentes guias, demonstrando as arrecadações das tabelas; organizar e conferir as folhas mensais do pagamento do pessoal mensalista e diarista, remetendo-as á Secretaria da Intendência, para os devidos fins legais; receber as importâncias e efetuar os pagamentos, quando isso for encarregado pelo intendente; requisitar, do intendente, as quantias efetuarem os pagamentos; enviar as folhas de percentagem dos cobradores e fiscais, cujo pagamento era visado pelo intendente; administrar os empregados, seus subordinados, e representar ao intendente contra aos que merecem maiores penas. Quanto ao Art. 24º, do Capitulo II, esse está descrevendo as incumbências de outro funcionário do Mercado Municipal, o Escriturário. Esse tinha como principais funções: auxiliar o administrador no fiel cumprimento das obrigações relativas ao Mercado, de acordo com as ordens que recebesse do administrador; substituir o administrador, em caso de impedimento monetário; fiscalizar os serviços de arrecadação de rendas do Mercado; fazer a escrituração dos livros e numerar os talões, organizando as folhas dos diaristas e os boletins diários de movimento da receita e das despesas do Mercado. Por fim, no último tópico, do Capitulo de numero II do Regulamento para o serviço do Mercado Municipal de Aracaju, denominado de “Disposições Gerais”, observa-se que a estrutura pessoal do Mercado Municipal é composta por um administrador, um escriturário e todos os cobradores, quantos necessitar para o serviço de arrecadação. Salienta-se também que, no Art. 27º estar mencionado que o administrador e o escriturário, do Mercado, terão ordenados e receberão mensalmente por meio de folhas de elaboradas pelo intendente, com a competente averbação, autorizando o pagamento respectivo. Já os demais funcionários, do Mercado, receberão quinzenais, semanal ou diariamente, suas porcentagens em folhas, também elaboradas, pelo intendente Municipal. No Art. 28 º do Regulamento, pode-se observar que todos os locatórios do Mercado, deveriam assinar um termo de compromisso sobre as condições estabelecidas no ato de locação dos compartimentos, garantindo assim, a legalização com a Fazenda Municipal. Nesse termo de compromisso, observam-se algumas cláusulas como: realizar mensalmente ou diariamente o pagamento da locação, conforme o acertado; desocupar a barraca ou compartimento, dentro de 24 horas, no caso de atraso do respectivo aluguel mensal, e dentro de dois dias, no caso dos alugueis, cujo pagamento fosse diário; conservar a barraca locada, com toda higiene, de acordo com as exigências da Saúde Publica, Municipal, Estadual e Federal; reparar os estragos que se derem na barraca ou compartimento locado, sendo por exclusiva conta do locatário, as despesas com os concertos; não transferir a barraca locada a qualquer outra pessoa, sem que seja dada, previamente, o consentimento da administração do Mercado; não depositar nos compartimentos ou barracas locadas, explosivos, materiais ou substâncias inflamáveis, por conta própria ou alheia, sendo que quem desobedecesse a essa ordem, estava sujeito a pena das responsabilidades publicas; responder, perante a administração municipal, por qualquer multa que forcem obrigados a pagar, inclusive, assumir inteira responsabilidade por todos os danos provindos do seu negocio por força maior, caso de roubo, desvios de mercadorias, incêndios, inundações. Em mesmo Jornal (Jornal Diário Oficial), nas edições de nº 2354 e 2355, publicados nos dias 22 e 23 de 1928, foi Publicado, pela Administração do Coronel Theophilo Dantas, a Mensagem apresentada pelo mesmo, ao conselho Municipal, no dia 10 de janeiro de 1928. Onde são relatados os movimentos ocorridos durante o exercício financeiro de 1927. O Mercado Municipal, no ano de 1927, era considerado, uma das principais fontes de receita do Município, tendo como diretor o Coronel Antonio Prado Franco, esse era responsável ainda por arrecadar as rendas obtidas no aluguel dos estandes, Mercado Municipal. Hoje se pode observar que as diversas obras sofridas pelo Mercado Central de Aracaju, foram de grande relevância, tanto para o crescimento econômico de Aracaju, quanto para a vida social local, pois representa o desenvolvimento urbano dessa cidade que, mesmo com o surgimento dos mercados setoriais, o Mercado Central de Aracaju tem resistido e ainda é considerada, a principal opção da população aracajuana, em relação à aquisição de produtos de bens de consumo. Onde cada parte do mercado atual tem sua finalidade de venda. O prédio mais antigo, chamado de Antônio Franco, onde na década de 30 era o único prédio que compunha o Mercado, e que era destinada a venda de gêneros alimentícios, hoje serve como um Centro comercial popular para fins turísticos, onde são comercializados artigos e produtos artesanais como cerâmicas, rendas, roupas artesanais, produtos feitos de couro, de palha, madeira, entre ouros. Nesse mesmo espaço é possível encontrar barracas de Cordéis, grupos de repentistas, restaurantes onde são vendidas comidas típicas do estado de Sergipe, e onde, aos Sábados, por volta das 12:00 horas da tarde, é possível encontrar trios pé de serra tocando no ambiente, enquanto a população aracajuana, e os turistas visitam ao local. . Já o Thales Ferraz, é comercializado as riquezas gastronômicas com o mel, queijos, castanha, tapiocas, pé-de-moleque, diversas cocadas, ervas e produtos relacionados aos cultos afro brasileiros enquanto que o Mercado Albano Franco é dedicado ao ramo de hortifrutigranjeiros,ou seja, a venda de frutas, verduras, legumes, carnes, peixes, mantimentos,temperos. Mas, anda nesse espaço podem-se encontrar produtos para o lar, roupas, brinquedos e ainda conta com extensa área para estacionamento de veículos que, serve como “praça de eventos” para alguns acontecimentos e comemoração da população aracajuana. Um exemplo disso são as comemorações dos festejos juninos de Aracaju, denominado de “Forró-Caju”, que o corre todos os anos, nesse espaço. Assim como nos dias atuais, As noites do Mercado Central de Aracaju sempre foram bem agitadas, além do importante movimento de transporte de passageiros e mercadorias existente no Mercado, havia também um forte clima de boemia. Pois a vida social em torno dos mercados era bastante intensa. Na parte de baixo funcionavam mercearias durante o dia e na parte de cima bares e restaurantes. Mas à noite, eram revelados os cabarés e as boates. Algum que hoje ainda pode ser visto, mas de forma mais perceptível, e não só durante a noite, mas também durante o dia. A área localizada ao redor dos mercados centrais de Aracaju, região que compreende a Avenida Otoniel Dórea, o Beco dos Cocos e as ruas Santa Rosa e Florentino Menezes, era mais conhecida como Vaticano. Pois Era uma forma irônica, do povo aracajuano, com relação ao que acontecia naquele local durante as noites, ou seja, prostituição, e muita bebedeira. Mas a partir da década de 1970, quando a prostituição começou a ser reprimida na área, a região continuou a ser um importante pólo cultural da cidade, com constantes apresentações de diversos músicos locais. Hoje, o Beco dos Cocos serve de espaços para realização encontros culturais, como shows, apresentações de teatro. Já a Rua de Santa Rosa e Florentino Menezes fazem parte do comercio central de Aracaju, onde são comercializados produtos de diversos gêneros. Mas que durante a noite, essas ruas ainda servem de ponto de prostituição, e de venda de drogas. E por isso, passou a ser chamada pela população aracajuana de “cracolândia”. As casas de Auta e de Branca e os Cabarés Pinga Tostão e Pedro Begadão, na Rua Bonfim; a Casa de Madalena e o Cabaré Portão de Ferro, na Rua Simão Dias; os Cabarés Ponta da Asa, na Rua São Cristóvão; Shell, no Largo Esperanto, Bela Vista, no Beco dos Cocos, esquina Rua Santa Rosa, Pinga Pus, na Avenida Pedro Calazans, Alabama, na Avenida Otoniel Dória, Capineira, na Avenida São Paulo com Rua Bahia, Brama Bar, na Rua João Pessoa, Imperial, na Avenida Carlos Firpo, esquina com a Rua Divina Pastora e do Sargento Elias, com a Rua da Frente; as Casas de Odete e da Titia, no Bairro Industrial e a Casa de Edite, na Ilha das Cobras. Destaque ainda para as Casas de Vanda e Ciganinha e os Cabarés Bambu, Shangai de Tefinha e Miramar, do popular Tonho. (SOTERO, 2007, p. 89-90) 2-Da transformação em Centro Histórico A cidade de Aracaju transformou-se em um Centro Histórico com seus casarões do século XIX, prédios públicos que abrigou ilustres representantes da política sergipana, os grupos escolares, como a Escola Normal, o Atheneu, Manuel Luiz dentre outros, a sede da província que a princípio localizavam-se no prédio da Alfândega na Praça General Valadão que hoje se encontra deteriorada e servindo de abrigo para os delinqüentes que vivem no centro. O quartel da policia militar, a marinha dentre alguns prédios que fizeram parte do processo de transformação que a cidade passou depois de torna-se capital de Sergipe. Os grupos escolares que desenvolveram no período da mudança da capital foram a Escola Normal ou Instituto Rui Barbosa, Colégio Atheneu Sergipense, ambos com curso de magistério destinado para homens que com o passar dos anos e a falta de incentivo da profissão docente ocorreu um desinteresse entre os jovens passando a investir em outras profissões como a de Advogado e Médico, fato que obrigou a inclusão de mulheres neste curso, pois naquela época a mulher só era destinada saber ofícios domestica pra o casamento que na maioria das vezes era providenciado pelos pais. Foto: Prédio da Escola Normal antigo Foto: Colégio Atheneu antigo Fonte: Acervo Ana Medina Fonte: conhecendoaracaju-154. bolgspot.com Outro grupo que se destacou também foi o Manuel Luiz que atualmente localiza-se na Avenida Pedro Calazans próximo ao hospital Cirurgia que também fez parte do processo de desenvolvimento da nova capital com seu ilustre Doutor Augusto Leite. A Praça Fausto Cardoso foi palco de grandes movimentos no decorrer da história de Aracaju, aconteciam manifestações políticas, culturais e religiosas, era o local mais frequentado da cidade onde se localizavam o Palácio Provincial, a Ponte do Imperador dentre vários prédios que pertenciam ao governo. Foto: Palácio-museu Atual Fonte: Lineu Lins 3- Manifestações Religiosas e Políticas As manifestações religiosas em homenagem a procissão do Bom Jesus dos Navegantes atraiu multidões, várias embarcações acompanhavam o cortejo de devoção ao Santo e a ponte era o ponto de partida da procissão que hoje continua acontecendo no dia 1 de Janeiro. Foto: Procissão do Bom Jesus Navegantes Foto: Procissão Bom Jesus Navegantes Fonte: Ana Maria Fonseca Medina Fonte: destaknews.blospot.com Falar das manifestações que, ocorreram no período da mudança da capital e teve como cenário a Praça Fausto Cardoso, nos remete a lembrar e falar um pouco da história da Câmara de vereadores de Aracaju, que foi fundada após 13 dias de instalação da cidade como informam os pesquisadores Jorge Carvalho do Nascimento e sua esposa Éster Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento: A História do Poder Legislativo no Município de Aracaju é, portanto, uma expressão importante da história política da capital de Sergipe e das práticas de vida dos homens e mulheres que aqui viveram e vivem. Tal História é reveladora das distintas formas de exercício do Direito de participação política da população. A cidade de Aracaju foi fundada em março de 1855, para ser a capital da Província. No mesmo mês, a Câmara Municipal começou a funcionar. Na sua primeira década de funcionamento, contou com 31 vereadores titulares e 14 suplentes, totalizando 45 membros. (NASCIMENTO, 2010, p.28) Foto: Câmara de vereadores atual Fonte: sergipetradetour.com.br Dentre os movimentos que ocorrem em Aracaju que tiveram a praça como palco está à luta pelas eleições diretas que tinha como slogan Diretas Já, que atraiu multidões, o anuncio da morte de Getúlio Vargas foi um dos momentos marcantes da praça. O presidente Inácio Joaquim Barbosa também providenciou a construção de uma estrada ligando a Capital ao povoado Santo Antônio no Alto da Colina, atual Avenida João Ribeiro. Foto: Avenida João Ribeiro antiga Foto; Avenida João Ribeiro atual Fonte: aracajuantigga.blogspot.com Fonte: gilsondeoliveira.com.br 3-Da moléstia que assolou a Capital No decorrer da construção da nova Capital, que se desenvolvia promissoramente, ocorre um surto de moléstias endêmicas, “e que quase ninguém escapou de ser atacado de febres intermitentes, o que a muitos amedrontou”, afirmou o Dr. Pedro Autran da Mata Albuquerque. O surto que ocorrera no período da construção da nova Capital acabou por atingir o Presidente da Província Inácio Barbosa, que divido a doença necessitou fazer uma viagem para Estância em busca de um ambiente mais saudável para sua recuperação, fato que agravou mais seu estado de saúde. Depois de um mês do início de sua doença em 6 de outubro o Presidente falecia aos 33 anos de idade, sendo enterrado na cidade de Estância, seus restos mortais foram transportados para Aracaju em 1858. Seu governo durou um curto espaço de tempo um ano, dez meses e dezenove dias, mas que custou o reconhecimento sergipano às suas realizações. O Presidente Salvador Correia de Sá e Benevides, ao tomar as providências para a remoção dos seus restos mortais de Estância para Aracaju, autorizada pela resolução Provincial n° 453, de 3/9/1856, justificava afirmando que, a nova Capital, “atestarão a cada momento, que as bases do brilhante futuro da Província foram plantadas por este homem em sacrifício de sua vida”. A transladação era prevista para fevereiro de 1858, tendo ele tomado as providências necessárias para a realização, a partir de aquisição, em Recife, do túmulo de mármore a ser colocado no local escolhido nos fundos da Capela de São Salvador. (Ibidem, 2006, p.146). Entre os prédios públicos que foram erguidos com a mudança da capital, está a construção da primeira igreja. Almeida expõe: “Ao fundar-se esta capital, seu ilustre e finado fundador, o Dr. Inácio Joaquim Barbosa tomou por protetora de sua obra a Imaculada Conceição. É a padroeira do Império que ele toma por protetora de sua grande obra, e ele tenta levantar um templo da Virgem, que aí fica em alicerces a Igreja da Conceição”. O tenente-coronel João Manuel de Souza Pinto doou um terreno para construção da capela São Salvador como era chamada a Igreja Nossa Senhora da Conceição, que se localizava no lugar onde foi erguido o prédio da Assembléia Provincial. Sendo que o terreno doado foi usado para outra finalidade, a igreja ficou sem ser construída. Em 1863 o Presidente Joaquim Jacinto de Mendonça afirma que a capela de São Salvador como era chamada funcionava provisoriamente como Matriz e autorizou a construção “na praça que passou a chamar-se da Conceição e o fez sem patrimônio algum”, isto é, não houve doação de terreno, nem instituição da fabrica, como era comum para edificação de igrejas. Atualmente a Igreja chama-se Catedral e localiza-se na Praça Olimpio Campos. Em 1875, 13 anos após o lançamento da 1ª pedra, foram as obras de construção inauguradas com a ajuda dos fiéis. Entretanto, ainda eram necessários os alfais, imagens, paramentos que foram sendo adquiridos com o passar do tempo. Se Nossa Senhora da Conceição é padroeira de Aracaju por ser a devoção do Império ou a devoção particular do presidente Inácio Barbosa, o certo é que Aracaju continua solenemente a festejar no dia 8 de dezembro sua padroeira como símbolo da fé e esperança. Foto: Devotos de Nossa Senhora da Conceição Fonte: destaknews.blogspot.com A igreja da Colina do Santo Antônio faz parte do cortejo em devoção à padroeira da cidade Nossa Senhora da Conceição e o evento tem diversas manifestações religiosas dentre elas a católica e o candomblé que participa da festividade em homenagem a padroeira da cidade começando pelo centro de Aracaju durante o dia e a noite na Orla onde são lançadas ao mar as oferendas a Iemanjá que na religião católica é Nossa Senhora da Conceição. Os curtos africanos no Brasil durante muito tempo foi proibido, os negros por sua vez como não podiam entrar nas igrejas, cultuavam seus santos nas senzalas onde viviam sendo perseguidos pelos senhores de engenhos que achavam os cultos como sendo bruxaria e os proibia de realizarem, para driblar as ações de perseguições que os negros sofriam quando estavam cultuando seus deuses, começaram a fazer uma relação entre os santos da igreja católica com o do candomblé como, por exemplo, Iemanjá que é Nossa Senhora da Conceição, São Jorge que é Ogum. III-CONCLUSÃO Olhar a cidade de Aracaju de forma icnográfica nos remete a voltar ao passado em que a cidade possuía apenas sítios isolados de povoação cheio de pântanos e charcos, que mesmo com tantos contrastes inspirou seu fundador Inácio Joaquim Barbosa a coloca-lá como sede da província, contrariando diversas autoridades da época principalmente de São Cristóvão, que recebeu a notícia sobre protesto. Mas para que esta transferência ocorresse foi necessário pensar em uma cidade planejada e Aracaju era privilegiada por sua localização geográfica que fica próximo ao mar, fato que levou seu fundador a contratar o Capitão de Engenheiros Sebastião José Basílio Pirro para planejá-la e construía-la. Assim vários prédios públicos e particulares foram erguidos a exemplo da Alfândega, Colégio Atheneu, Escola Normal dentre outros, lembrando do Mercado Central que fez parte desse processo de desenvolvimento dando a cidade um crescimento social, político e econômico muito importante no seu processo desenvolvimento desde o político ao religioso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERREIRA, Jurandyr Pires. MARTINS, Hildebrando. Enciclopédia dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Geografia, 1959 NUNES, Maria Thétis.Sergipe Provincial, II (1840-1889). Rio de Janeiro;mTempo Brasileiro; Aracaju, Se: Banco do Estado de Sergipe, 2006. Revista de Aracaju/Prefeitura Municipal de Aracaju. Ano LXI. Funcaju; 2005. Nº11. MEDINA, Ana Maria Fonseca. Ponte do Imperador. 2ª Edição. Aracaju/Se: Gráfica J. Andrade, 2005. NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do, NASCIMENTO, Jorge Carvalho. Fontes para a história do poder legislativo da cidade de Aracaju: a primeira década de funcionamento da câmara de vereadores (1855-1865) – Aracaju: Criação, 2010. Jornal “Diário Oficial”, nº 2337, 01 (domingo) de janeiro de 1928, pag. 12898, 12899,1 2900 Jornal “Diário Oficial”, nº 2354, 22 (domingo) de janeiro de 1928. Jornal “Diário Oficial”, nº 2355, 24 (terça feira) de janeiro de 1928. http://www.infonet.com.br/aracaju/2008/images/mercado. http://www.faxaju.com.br/viz_conteudo.asp?codigo=267201017484116973


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA



Prof. Dr.: Antonio Lindvaldo Sousa
Aluna: Karla Jamylle Souza Santos
                     

“Um olhar icnográfico sobre o entorno do Quadrado de Pirro: analise história do centro Histórico de Aracaju (1855- 1940)”


I-INTRODUÇÃO:
O presente artigo tem como objetivo divulgar e tornar claro os acontecimentos, que ocorrem na história de Sergipe em especial da capital, desde a mudança de São Cristóvão para Aracaju e em que esta mudança contribuiu para o desenvolvimento social, político e econômico da população sergipana. A mudança da capital ocorreu em 17 de março de 1855, com a transferência da sua sede provincial de São Cristóvão para Aracaju. A princípio houve resistência da população de São Cristóvão que não concordavam com a mudança, mas com o passar dos anos acabaram aceitando mesmo sobre protesto.                                                                           
De acordo com o relato de Maria Thétis Nunes:
Só seriam registrados protestos legais da Câmara Municipal de São        Cristóvão à Assembléia Legislativa Provincial contra a transferência das sessões para o povoado do Aracaju, e uma representação a ser encaminhado ao Imperador Pedro II contra o ato. Pacíficas manifestações populares aconteceram em São Cristóvão criticando os responsáveis pelo o ato da mudança da capital da vetusta cidade, fundada após a conquista de Sergipe por Cristóvão de Barros.     (2006, p.128).                                                                    
A nova capital da província enfrentou muitas dificuldades no início de seu povoamento, por não ter muitas casas apenas sítios isolados de povoação.

A partir da drenagem e aterro dos pântanos e charcos na região atualmente localizada entre as praças Fausto Cardoso e General Valadão, o Presidente iniciou a construção dos primeiros edifícios: a alfândega, o palacete provisório para sediar a presidência, o quartel para a Polícia, e, com contribuições particulares, inclusive dele, a Casa da Oração, de pequeno tamanho, para as práticas religiosas enquanto a Matriz Nossa Senhora da Conceição não estivesse concluída, tendo sido lançados os alicerces. (Idem, 2006, p.144).

Na escolha de Aracaju para ser a sede da província foram levado em consideração a sua posição geográfica, que ficou próximo ao mar, tendo a Ponte do Imperador como porto hidroviário e aeroviário que recebia as embarcações e as aeronaves que aqui chegavam trazendo seus ilustres visitantes, dentre eles D.Pedro II e a Princesa, o presidente Washington Luiz e os filhos ilustres de Sergipe.


A Resolução de 17 de março de 1855, transferindo a capital para o povoado de Santo Antônio do Aracaju, não seria um ato impetuoso do Presidente, mas planejado objetivamente dentro da realidade do momento em que vivia o país, assim evidenciam as medidas que vinham sendo tomadas por ele através do ano de 1854 aparelhando o povoado do Aracaju para a posição que lhe estava destinada. (Ibidem, 2006, p.134). 


Os terrenos nos quais estava situada a nova capital pertenciam a várias personalidades que faziam parte da vida política e econômica de Sergipe, como as famílias Furtado de Mendonça e Rollemberg, mais o maior proprietário de terras era Luiz Francisco das Chagas, o Luizinho como era conhecido. Essas terras de Luizinho foram adquiridas através da regulamentação da posse requerida ao Presidente da Província, em 1854 e também por meio de herança. Ele residia no Sitio Olaria, que se estendia desde a região na qual atualmente está situado o centro da capital do Estado de Sergipe até o riacho Tramandai, onde atualmente está a Avenida Francisco Porto. Dentre os vários sitio que pertencia a Luizinho vale destacar o Sitio Aurora que emprestou o nome com o qual foi batizada a Rua da Frente, a Rua Aurora.

Antes que a Rua da Frente fosse aberta o lugar era conhecido como Costa do Cessa Farinha. Num outro sítio, do qual Luizinho também era dono, localizado na área onde atualmente está a Rua de Estância, nas proximidades da Rua Itabaiana, vivia José Albino de Moura. Na região em que foi construído o edifício da Escola Normal, no início do século XX (atual Centro de Turismo), havia outro sítio no qual residia Gustavo Próspero Travassos, propriedade do mesmo Luiz Chagas. Além disso, ele era dono de um quinto sítio na região chamada Padre Soares, que fazia limite com a Jabotiana e com as terras de Carlos Cruz.(NASCIMENTO, 2010, p.20-21)


                    

2-Do Fundador da Nova Capital
O fundador da cidade, Inácio Joaquim Barbosa, decidiu que esta seria diferente de todas outras “irmãs mais velhas”, tendo como engenheiro o Capitão de Engenheiros Sebastião José Basílio Pirro designado para a construção da cidade planejada.   
Segundo consta no relato de Nunes:

O capitão de Engelharia Sebastião José Basílio Pirro, já vivendo em Sergipe desde 1848, que elaborou a primeira planta de Aracaju (texto n° 3), “um traçado em xadrez”, e “ dentro de um quadrado de 540 braços de lado estavam traçados quarteirões iguais, de forma quadrada, com 55 braços de lado, separados por ruas de 60 palmos de largura. Como se vê, o supra-sumo da simplicidade e do rigor geométrico.” ( 2006, p.144).
O trabalho que foi desenvolvido pelo o engenheiro recebeu a denominação de “quadrado de Pirro”, utilizado para designar a forma com que foi planejada a nova capital, forma esta associada a um tabuleiro de xadrez.
A única alteração que sofreu o plano de Pirro foi imposta pelo próprio Presidente Barbosa ao curvar a reta da Rua da Frente à suprema necessidade de incentivar as edificações da cidade. A reta de Pirro estaria, para sempre, em chocante contraste com a ampla curva que faz o rio em frente à cidade e o seu ponto final, ao sul, ficaria distante mais 200 metros da praia. Foi uma sorte a lembrança do Presidente. Em vez de uma reta fria e inflexível, sem perspectiva, ganhou a cidade uma bela avenida, acompanhando o Sergipe e que pode ser admirada, em toda a sua extensão, de qualquer de seus pontos.                  (Ibidem, 2006, p.155).  

Ao solicitar a alteração, o presidente Inácio Barbosa queria incentivar a construção de
edificações e assim aproximar a população que ali residia do Cotinguiba e logo a frente da Praia Formosa que fora bastante frequentada e foi onde o submarino alemão atracou no período da Segunda Guerra Mundial e hoje se chama Praia 13 de Julho muito diferente do que fora em outrora tomada por uma grande poluição fruto dos dejetos de esgoto da cidade, mais que continua sendo frequentada por todos para caminhadas e diversão fato que redeu a cidade o título de “melhor qualidade de vida”.
O local é um dos pontos que sofreu maior especulação imobiliária nas últimas décadas, com suas imensas mansões de fino acabamento, requinte e luxo, que embelezam cada vez mais a Avenida Beira Mar.

O Cotinguiba foi palco de imensas festas dentre elas do São João e Carnaval que durante muito tempo fora feito lá, sobre os olhares das classes dominantes que ali freqüentavam num momento de pura diversão.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     


II- DESENVOLVIMENTO
1-O mercado e a vida boemia dos aracajuanos

O centro de Aracaju fazia parte da vida boemia dos aracajuanos, principalmente no período noturno nas imediações do mercado Thales Ferraz durante décadas.
O Mercado Central de Aracaju foi, durante duas décadas, o maior e mais completo centro popular de Aracaju. Dividido em três mercados (Thales Ferraz, Antônio Franco e o novo Albano Franco).  O Mercado que inicialmente tinha sua estrutura feita em madeira, foi reformado pela primeira vez em 1910, passando a ser de ferro. Novas reformas ocorreram em 1920 durante as comemorações do centenário da independência do Estado de Sergipe. Segundo o Historiador Luiz Antônio Barreto[1], “essa obra foi chamada de Mercado Antônio Franco, nome do empresário que investiu em sua construção”. Somente na década de 1940, adquiriu a estrutura atual.
                                   

De 1994 a 2002 sofreu novo ajuste e a construção do prédio novo, Albano Franco, área de abastecimento de frutas e verduras. Antes, ele era um mercado comum, com estabelecimentos com ferragens, alimentos e bares. Mas, hoje, têm entre seus produtos o artesanato, as roupas e as comidas típicas.  

                                                     
Os novos prédios do Mercado estão localizados onde antes ficava o porto de Aracaju, lugar de saída e chegada de barcos e saveiros que iam e vinham do interior do estado com passageiros e mercadorias. Atualmente, mercado também reserva espaço para os bares e restaurantes, que oferecem um cardápio típico da região. O pirão de capão é o prato mais apreciado, junto com a carne de sol, o churrasco e o bacalhau. O Mercado Central de Aracaju mantém sua arquitetura original, em estilo colonial espanhol, mas, depois de uma reforma, passou de um mercado normal, para uma importante atração turística da capital sergipana.
Dentre as atrações do Mercado Central de Aracaju merecem destaques: a carrocinha de João Firmino Cabral, com 68anos de idade, vende literatura de cordel a mais de 50 anos.
Ele faz literatura de cordel desde os 16 anos tem centenas de títulos publicados; a frente da banca de cordel pode-se encontra uma antiga dupla de repentistas; no mercado pode-se encontrar um espaço destinado a preservação da cultura popular, a Rua da Cultura, onde ocorrem shows com bandas locais, e o famoso Forró Caju, espaço de comemoração das festas juninas que recebe famosas bandas de forró e também os forrozeiros tradicionais do pé de serra durante toda a segunda quinzena do mês de junho. Mas o no cotidiano do Mercado central de Aracaju, o que mais se destaca são as barracas onde, são expostos e vendidos todos os tipos de produtos artesanais do estado de Sergipe, além da diversidade culinária, o corredor das flores e ainda uma parte do prédio destinada à venda de frutas e verduras.



Após uma, pesquisa mais aprofundada, foi possível encontrar, o Regulamento para o serviço do Marcado Municipal de Aracaju. Publicado no Jornal “Diário Oficial”, no dia 01 de janeiro de 1928. Nesse regulamento constata-se que o Mercado Municipal de Aracaju, foi criado com o intuito de servir de espaço para a venda de gêneros alimentícios, mais sendo permitida também, a venda de artigos de comercio. Esse regulamento foi elaborado em 27 de dezembro de 1927, por Theophilo Corrêa Dantas, o intendente municipal de Aracaju, no Gabinete do mesmo, e foi publicado, no Jornal “Diário Oficial”, pelo secretario do intendente, Hermenegildo Leão dos Santos.
A estrutura do Regulamento está disposta da seguinte forma: Dividida em dois capítulos, onde o capitulo de numero um, que contem 22 Art., irá tratar de esclarecer, as normas de funcionamento do estabelecimento; já o capitulo dois que corresponde aos Art.23 a 29, e fica incumbido de explicar as Atribuições do Administrador, e as Disposições Gerais. No regulamento do Mercado Municipal de Aracaju é possível destacar que, o Mercado era composto por divisões, de acordo com o que seria comercializado em cada espaço. Existiam divisões para artigos de armarinho, gêneros de estivas[2], açougues, peixes. Esses comercializados nos compartimentos que formam as quatro faces do mercado, interna e externamente. Nas demais divisões centrais, do mercado, eram comercializadas, artigos do gênero alimentício como: farinha, milho, arroz, batatas, frutas, legumes, hortaliças, aves e fressuras[3].
 Quanto ao horário de funcionamento do Mercado Municipal de Aracaju, segundo o Regulamento de 1928, o Mercado estava aberto ao publico das 05 horas e 30 minutos da manhã às 17 horas e 30 minutos da tarde, sendo que a abertura e o encerramento do comercio no Mercado, era anunciado por toques de sineta. O Mercado era dirigido por administrador, nomeado pelo intendente do Município. O intendente tinha como função, fiscalizar a parte interna e externa do Mercado Municipal, expedir ordens aos demais funcionários do Mercado. Dentre esses funcionários estão os cobradores fiscais, cobradores de impostos, guardas, serventes, o administrador, o escriturário e diaristas.
O Mercado era lavado e varrido diariamente, às 17 horas e 30 minutos da tarde, após o encerramento do expediente. E segundo o Regulamento do Mercado, era de responsabilidade de cada comerciante, lavar e manter limpo os seus estabelecimentos. Já a parte central (corredores e passagens) e os espaços não locados, eram de responsabilidade dos serventes do Mercado, manter-los lavados e varridos. É importante salientar que no Art. 8º, do regulamento do Mercado, está descrito que “os lacotorios de compartimentos ocupados por açougues farão lavar com potassa[4] as respectivas paredes, pelo menos uma vez por semana, no dia designado pelo administrador”. Já no Art. 10º e possível observar que era obrigação dos comerciantes que, os balcões ou bancos onde seriam expostos os produtos, que seriam adquiridos, a partir de quantidades medidas por balanças, pesos e medidas, que esses, estivessem dispostos nos balcões, de forma que o comprador pudesse verificar o que e quanto (quantidade) estava sendo comprado.
            Os vendedores que comercializavam na ária central do prédio tinham a permissão, para vender seus produtos, apenas até as 17 horas, sendo obrigados, a deixar os locais ocupados, varridos e limpos, após o expediente. Quanto aos comerciantes volantes, esses tinham a obrigação de retirar suas mercadorias, logo que se encerrasse o movimento do Mercado, geralmente às 17 horas e 30 minutos. No Art. 13º do Regulamento do Mercado, esta claro que a locação (aluguel) de açougues, compartimentos e outros lugares do Mercado, eram feita por mês, e o pagamento deveria ser adiantado, ou feito diariamente.
            Ainda no primeiro capitulo do regulamento do Mercado municipal, mais especificadamente nos Arts. 15º e 16º, foram descritos, vinte tópicos, correspondente ás proibições do estabelecimento. Dentre essas proibições destacam-se: a proibição da entrada de cães, e quaisquer animais vivos, exceto aqueles cuja venda seja feita, para o consumo humano; atravessar ou percorrer o mercado com objetos que interrompam a passagem de pessoas; sentar eu parar em lugares destinados a circulação e movimentação de pessoas e mercadorias; utilizar-se de gritos ou vozerias, para anunciar os preços e os artigos à venda no Mercado; utilizar palavras ou se comportar de modo inconveniente a decência, moralidade e ordem publica; proibida também, a presença de músicos, cantores, ambulantes e saltimbancos[5], nas áreas centrais do Mercado; era estritamente proibido deixar ou jogar, nos lugares destinados ao trânsito de pessoas e mercadorias, papeis palhas e outros resíduos; proibido, ter no chão dos açougues e dos compartimentos destinados à venda de mercadorias, aves mortas, peixes estragados, mercadorias avariadas e outros resíduos prejudiciais a saúde publica; vender gêneros alimentícios falsificados ou roubados; lesar ou tentar lesar o comprador, quanto aos pesos, medidas e quantidades das mercadorias; é proibida a presença de loterias e jogos; proibido rasgar ou inutilizar os editais colocados no mercado, por ordem da Intendência; sujar, desenhar ou borrar os muros, ferros, paredes, tanto da parte interna quanto da parte externa do Mercado; fixar de cartazes nas paredes o mercado; danificar qualquer objeto pertencente ao estabelecimento; brigas, gritos, queixas, cantigas e outras coisas que perturbem a ordem; deixar crianças correr, brincar, ou serem abandonadas no prédio do mercado e em suas dependências; perturbar ou ameaçar aos agentes e autoridades particulares; era estritamente proibido, apropriar-se de objetos que não lhe pertencesse, e que fossem encontrados nas imediações do Mercado. Esses objetos deveriam ser integres na administração do Mercado, para que, caso o dono voltasse, ao estabelecimento, a procura do objeto perdido, esses fosse entregue ao dono. 
              Pode-se mencionar que é de grande relevância o que se estabeleci no Art. 17º do Regulamento do Mercado Municipal. Esse esclarece que os patrões, deveriam evitar que seus filhos, parentes e empregados desobedecessem às disposições regulamentares, sob pena de responsabilidade, pelos danos causados ao Mercado, e sendo vetada a entrada dos mesmos. O regulamento ainda esclarece, em seu primeiro capitulo que cada vendedor, era obrigado a ter em seu compartimento, uma caixa apropriada, ou um caixão forrado de zinco, para recolher o lixo e, após o lixo recolhido, o mesmo deveria ser levado para fora do mercado, na hora do encerramento do expediente (17h30min). 
 Partindo para as informações existentes no Capitulo II do Regulamento para o serviço do Mercado Municipal de Aracaju, mais especificadamente para as “Atribuições do Administrador”, pode-se observar que no Art. 23º do regulamento, foram descritas, às funções competentes ao Administrador no Mercado. Dentre essas funções destacam-se: dirigir e fiscalizar todo o serviço, cumprindo e fazendo cumprir as leis, regulamentos, instruções, e ordens em vigor; tinha como obrigação manter a policia do estabelecimento, e impor as multas previstas, aos que infringirem as disposições concernentes ao Mercado (mas as punições, equivalentes a suspensões da profissão e proibição da entrada no estabelecimento, eram de responsabilidade do intendente Municipal); manter o edifício e suas dependências no maior asseio possível; admitir, suspender ou dispensar os serventes, de acordo com as ordens do intendente; conservar em dia a escrituração dos livros, o seu cargo, e apresentar o boletim diário referente ao serviço de arrecadação; solicitar do intendente todas as providencias e medidas necessárias à boa ordem e conservação do Mercado; responder pelo serviço de arrecadação de impostos e taxas, fiscalizando-os por todos os meios que se tornarem necessários; recolher diariamente á tesouraria da Intendência, na forma determinada pelo regulamento, as quantias arrecadas, acompanhadas das competentes guias, demonstrando as arrecadações das tabelas; organizar e conferir as folhas mensais do pagamento do pessoal mensalista e diarista, remetendo-as á Secretaria da Intendência, para os devidos fins legais; receber as importâncias e efetuar os pagamentos, quando isso for encarregado pelo intendente; requisitar, do intendente, as quantias efetuarem os pagamentos; enviar as folhas de percentagem dos cobradores e fiscais, cujo pagamento era visado pelo intendente; administrar os empregados, seus subordinados, e representar ao intendente contra aos que merecem maiores penas. Quanto ao Art. 24º, do Capitulo II, esse está descrevendo as incumbências de outro funcionário do Mercado Municipal, o Escriturário. Esse tinha como principais funções: auxiliar o administrador no fiel cumprimento das obrigações relativas ao Mercado, de acordo com as ordens que recebesse do administrador; substituir o administrador, em caso de impedimento monetário; fiscalizar os serviços de arrecadação de rendas do Mercado; fazer a escrituração dos livros e numerar os talões, organizando as folhas dos diaristas e os boletins diários de movimento da receita e das despesas do Mercado.
             Por fim, no último tópico, do Capitulo de numero II do Regulamento para o serviço do Mercado Municipal de Aracaju, denominado de “Disposições Gerais”, observa-se que a estrutura pessoal do Mercado Municipal é composta por um administrador, um escriturário e todos os cobradores, quantos necessitar para o serviço de arrecadação. Salienta-se também que, no Art. 27º estar mencionado que o administrador e o escriturário, do Mercado, terão ordenados e receberão mensalmente por meio de folhas de elaboradas pelo intendente, com a competente averbação, autorizando o pagamento respectivo. Já os demais funcionários, do Mercado, receberão quinzenais, semanal ou diariamente, suas porcentagens em folhas, também elaboradas, pelo intendente Municipal.
 No Art. 28 º do Regulamento, pode-se observar que todos os locatórios do Mercado, deveriam assinar um termo de compromisso sobre as condições estabelecidas no ato de locação dos compartimentos, garantindo assim, a legalização com a Fazenda Municipal. Nesse termo de compromisso, observam-se algumas cláusulas como: realizar mensalmente ou diariamente o pagamento da locação, conforme o acertado; desocupar a barraca ou compartimento, dentro de 24 horas, no caso de atraso do respectivo aluguel mensal, e dentro de dois dias, no caso dos alugueis, cujo pagamento fosse diário; conservar a barraca locada, com toda higiene, de acordo com as exigências da Saúde Publica, Municipal, Estadual e Federal; reparar os estragos que se derem na barraca ou compartimento locado, sendo por exclusiva conta do locatário, as despesas com os concertos; não transferir a barraca locada a qualquer outra pessoa, sem que seja dada, previamente, o consentimento da administração do Mercado; não depositar nos compartimentos ou barracas locadas, explosivos, materiais ou substâncias inflamáveis, por conta própria ou alheia, sendo que quem  desobedecesse a essa ordem, estava sujeito a pena das responsabilidades publicas; responder, perante a administração municipal, por qualquer multa que forcem obrigados a pagar, inclusive, assumir inteira responsabilidade por todos os danos provindos do seu negocio por força maior, caso de roubo, desvios de mercadorias, incêndios, inundações.
              Em mesmo Jornal (Jornal Diário Oficial), nas edições de nº 2354 e 2355, publicados nos dias 22 e 23 de 1928, foi Publicado, pela Administração do Coronel Theophilo Dantas, a Mensagem apresentada pelo mesmo, ao conselho Municipal, no dia 10 de janeiro de 1928. Onde são relatados os movimentos ocorridos durante o exercício financeiro de 1927. O Mercado Municipal, no ano de 1927, era considerado, uma das principais fontes de receita do Município, tendo como diretor o Coronel Antonio Prado Franco, esse era responsável ainda por arrecadar as rendas obtidas no aluguel dos estandes, Mercado Municipal.       
Hoje se pode observar que as diversas obras sofridas pelo Mercado Central de Aracaju, foram de grande relevância, tanto para o crescimento econômico de Aracaju, quanto para a vida social local, pois representa o desenvolvimento urbano dessa cidade que, mesmo com o surgimento dos mercados setoriais, o Mercado Central de Aracaju tem resistido e ainda é considerada, a principal opção da população aracajuana, em relação à aquisição de produtos de bens de consumo. Onde cada parte do mercado atual tem sua finalidade de venda. O prédio mais antigo, chamado de Antônio Franco, onde na década de 30 era o único prédio que compunha o Mercado, e que era destinada a venda de gêneros alimentícios, hoje serve como um Centro comercial popular para fins turísticos, onde são comercializados artigos e produtos artesanais como cerâmicas, rendas, roupas artesanais, produtos feitos de couro, de palha, madeira, entre ouros. Nesse mesmo espaço é possível encontrar barracas de Cordéis, grupos de repentistas, restaurantes onde são vendidas comidas típicas do estado de Sergipe, e onde, aos Sábados, por volta das 12:00 horas da tarde, é possível encontrar trios pé de serra tocando no ambiente, enquanto a população aracajuana, e os turistas visitam ao local. . Já o Thales Ferraz, é comercializado as riquezas gastronômicas com o mel, queijos, castanha, tapiocas, pé-de-moleque, diversas cocadas, ervas e produtos relacionados aos cultos afro brasileiros enquanto que o Mercado  Albano Franco é dedicado ao ramo de hortifrutigranjeiros,ou seja, a venda de frutas, verduras, legumes, carnes, peixes, mantimentos,temperos. Mas, anda nesse espaço podem-se encontrar produtos para o lar, roupas, brinquedos e ainda conta com extensa área para estacionamento de veículos que, serve como “praça de eventos” para alguns acontecimentos e comemoração da população aracajuana. Um exemplo disso são as comemorações dos festejos juninos de Aracaju, denominado de “Forró-Caju”, que o corre todos os anos, nesse espaço.
Assim como nos dias atuais, As noites do Mercado Central de Aracaju sempre foram bem agitadas, além do importante movimento de transporte de passageiros e mercadorias existente no Mercado, havia também um forte clima de boemia. Pois a vida social em torno dos mercados era bastante intensa. Na parte de baixo funcionavam mercearias durante o dia e na parte de cima bares e restaurantes. Mas à noite, eram revelados os cabarés e as boates. Algum que hoje ainda pode ser visto, mas de forma mais perceptível, e não só durante a noite, mas também durante o dia.  A área localizada ao redor dos mercados centrais de Aracaju, região que compreende a Avenida Otoniel Dórea, o Beco dos Cocos e as ruas Santa Rosa e Florentino Menezes, era mais conhecida como Vaticano. Pois Era uma forma irônica, do povo aracajuano, com relação ao que acontecia naquele local durante as noites, ou seja, prostituição, e muita bebedeira. Mas a partir da década de 1970, quando a prostituição começou a ser reprimida na área, a região continuou a ser um importante pólo cultural da cidade, com constantes apresentações de diversos músicos locais.
             Hoje, o Beco dos Cocos serve de espaços para realização encontros culturais, como shows, apresentações de teatro. Já a Rua de Santa Rosa e Florentino Menezes fazem parte do comercio central de Aracaju, onde são comercializados produtos de diversos gêneros.  Mas que durante a noite, essas ruas ainda servem de ponto de prostituição, e de venda de drogas. E por isso, passou a ser chamada pela população aracajuana de “cracolândia”.

As casas de Auta e de Branca e os Cabarés Pinga Tostão e Pedro Begadão, na Rua Bonfim; a Casa de Madalena e o Cabaré Portão de Ferro, na Rua Simão Dias; os Cabarés Ponta da Asa, na Rua São Cristóvão; Shell, no Largo Esperanto, Bela Vista, no Beco dos Cocos, esquina Rua Santa Rosa, Pinga Pus, na Avenida Pedro Calazans, Alabama, na Avenida Otoniel Dória, Capineira, na Avenida São Paulo com Rua Bahia, Brama Bar, na Rua João Pessoa, Imperial, na Avenida Carlos Firpo, esquina com a Rua Divina Pastora e do Sargento Elias, com a Rua da Frente; as Casas de Odete e da Titia, no Bairro Industrial e a Casa de Edite, na Ilha das Cobras. Destaque ainda para as Casas de Vanda e Ciganinha e os Cabarés Bambu, Shangai de Tefinha e Miramar, do popular Tonho. (SOTERO, 2007, p. 89-90)
            
 2-Da transformação em Centro Histórico    
                             
A cidade de Aracaju transformou-se em um Centro Histórico com seus casarões do século XIX, prédios públicos que abrigou ilustres representantes da política sergipana, os grupos escolares, como a Escola Normal, o Atheneu, Manuel Luiz dentre outros, a sede da província que a princípio localizavam-se no prédio da Alfândega na Praça General Valadão que hoje se encontra deteriorada e servindo de abrigo para os delinqüentes que vivem no centro. O quartel da policia militar, a marinha dentre alguns prédios que fizeram parte do processo de transformação que a cidade passou depois de torna-se capital de Sergipe.
Os grupos escolares que desenvolveram no período da mudança da capital foram a Escola Normal ou Instituto Rui Barbosa, Colégio Atheneu Sergipense, ambos com curso de magistério destinado para homens que com o passar dos anos e a falta de incentivo da profissão docente ocorreu um desinteresse entre os jovens passando a investir em outras profissões como a de Advogado e Médico, fato que obrigou a inclusão de mulheres neste curso, pois naquela época a mulher só era destinada saber ofícios domestica pra o casamento que na maioria das vezes era providenciado pelos pais.

                


Outro grupo que se destacou também foi o Manuel Luiz que atualmente localiza-se na Avenida Pedro Calazans próximo ao hospital Cirurgia que também fez parte do processo de desenvolvimento da nova capital com seu ilustre Doutor Augusto Leite.
A Praça Fausto Cardoso foi palco de grandes movimentos no decorrer da história de Aracaju, aconteciam manifestações políticas, culturais e religiosas, era o local mais frequentado da cidade onde se localizavam o Palácio Provincial, a Ponte do Imperador dentre vários prédios que pertenciam ao governo.




3- Manifestações Religiosas e Políticas

As manifestações religiosas em homenagem a procissão do Bom Jesus dos Navegantes atraiu multidões, várias embarcações acompanhavam o cortejo de devoção ao Santo e a ponte era o ponto de partida da procissão que hoje continua acontecendo no dia 1 de Janeiro.

                               

Falar das manifestações que, ocorreram no período da mudança da capital e teve como cenário a Praça Fausto Cardoso, nos remete a lembrar e falar um pouco da história da Câmara de vereadores de Aracaju, que foi fundada após 13 dias de instalação da cidade como informam os pesquisadores Jorge Carvalho do Nascimento e sua esposa Éster Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento:

A História do Poder Legislativo no Município de Aracaju é, portanto, uma expressão importante da história política da capital de Sergipe e das práticas de vida dos homens e mulheres que aqui viveram e vivem. Tal História é reveladora das distintas formas de exercício do Direito de participação política da população. A cidade de Aracaju foi fundada em março de 1855, para ser a capital da Província. No mesmo mês, a Câmara Municipal começou a funcionar. Na sua primeira década de funcionamento, contou com 31 vereadores titulares e 14 suplentes, totalizando 45 membros. (NASCIMENTO, 2010, p.28)

Dentre os movimentos que ocorrem em Aracaju que tiveram a praça como palco está à luta pelas eleições diretas que tinha como slogan Diretas Já, que atraiu multidões, o anuncio da morte de Getúlio Vargas foi um dos momentos marcantes da praça.
O presidente Inácio Joaquim Barbosa também providenciou a construção de uma estrada ligando a Capital ao povoado Santo Antônio no Alto da Colina, atual Avenida João Ribeiro.


                      

3-Da moléstia que assolou a Capital
No decorrer da construção da nova Capital, que se desenvolvia promissoramente, ocorre um surto de moléstias endêmicas, “e que quase ninguém escapou de ser atacado de febres intermitentes, o que a muitos amedrontou”, afirmou o Dr. Pedro Autran da Mata Albuquerque.
O surto que ocorrera no período da construção da nova Capital acabou por atingir o Presidente da Província Inácio Barbosa, que divido a doença necessitou fazer uma viagem para Estância em busca de um ambiente mais saudável para sua recuperação, fato que agravou mais seu estado de saúde. Depois de um mês do início de sua doença em 6 de outubro o Presidente falecia aos 33 anos de idade, sendo enterrado na cidade de Estância, seus restos mortais foram transportados para Aracaju em 1858. Seu governo durou um curto espaço de tempo um ano, dez meses e dezenove dias, mas que custou o reconhecimento sergipano às suas realizações.

O Presidente Salvador Correia de Sá e Benevides, ao tomar as providências para a remoção dos seus restos mortais de Estância para Aracaju, autorizada pela resolução Provincial n° 453, de 3/9/1856, justificava afirmando que, a nova Capital, “atestarão a cada momento, que as bases do brilhante futuro da Província foram plantadas por este homem em sacrifício de sua vida”. A transladação era prevista para fevereiro de 1858, tendo ele tomado as providências necessárias para a realização, a partir de aquisição, em Recife, do túmulo de mármore a ser colocado no local escolhido nos fundos da Capela de São Salvador. (Ibidem, 2006, p.146).

Entre os prédios públicos que foram erguidos com a mudança da capital, está a construção da primeira igreja. Almeida expõe: “Ao fundar-se esta capital, seu ilustre e finado fundador, o Dr. Inácio Joaquim Barbosa tomou por protetora de sua obra a Imaculada Conceição. É a padroeira do Império que ele toma por protetora de sua grande obra, e ele tenta levantar um templo da Virgem, que aí fica em alicerces a Igreja da Conceição”.
O tenente-coronel João Manuel de Souza Pinto doou um terreno para construção da capela São Salvador como era chamada a Igreja Nossa Senhora da Conceição, que se localizava no lugar onde foi erguido o prédio da Assembléia Provincial. Sendo que o terreno doado foi usado para outra finalidade, a igreja ficou sem ser construída.
Em 1863 o Presidente Joaquim Jacinto de Mendonça afirma que a capela de São Salvador como era chamada funcionava provisoriamente como Matriz e autorizou a construção “na praça que passou a chamar-se da Conceição e o fez sem patrimônio algum”, isto é, não houve doação de terreno, nem instituição da fabrica, como era comum para edificação de igrejas. Atualmente a Igreja chama-se Catedral e localiza-se na Praça Olimpio Campos.                                                                   
Em 1875, 13 anos após o lançamento da 1ª pedra, foram as obras de construção inauguradas com a ajuda dos fiéis. Entretanto, ainda eram necessários os alfais, imagens, paramentos que foram sendo adquiridos com o passar do tempo.
Se Nossa Senhora da Conceição é padroeira de Aracaju por ser a devoção do Império ou a devoção particular do presidente Inácio Barbosa, o certo é que Aracaju continua solenemente a festejar no dia 8 de dezembro sua padroeira como símbolo da fé e esperança. 

A igreja da Colina do Santo Antônio faz parte do cortejo em devoção à padroeira da cidade Nossa Senhora da Conceição e o evento tem diversas manifestações religiosas dentre elas a católica e o candomblé que participa da festividade em homenagem a padroeira da cidade começando pelo centro de Aracaju durante o dia e a noite na Orla onde são lançadas ao mar as oferendas a Iemanjá que na religião católica é Nossa Senhora da Conceição.
Os curtos africanos no Brasil durante muito tempo foi proibido, os negros por sua vez como não podiam entrar nas igrejas, cultuavam seus santos nas senzalas onde viviam sendo perseguidos pelos senhores de engenhos que achavam os cultos como sendo bruxaria e os proibia de realizarem, para driblar as ações de perseguições que os negros sofriam quando estavam cultuando seus deuses, começaram a fazer uma relação entre os santos da igreja católica com o do candomblé como, por exemplo, Iemanjá que é Nossa Senhora da Conceição, São Jorge que é Ogum.


III-CONCLUSÃO

Olhar a cidade de Aracaju de forma icnográfica nos remete a voltar ao passado em que a cidade possuía apenas sítios isolados de povoação cheio de pântanos e charcos, que mesmo com tantos contrastes inspirou seu fundador Inácio Joaquim Barbosa a coloca-lá como sede da província, contrariando diversas autoridades da época principalmente de São Cristóvão, que recebeu a notícia sobre protesto. Mas para que esta transferência ocorresse foi necessário pensar em uma cidade planejada e Aracaju era privilegiada por sua localização geográfica que fica próximo ao mar, fato que levou seu fundador a contratar o Capitão de Engenheiros Sebastião José Basílio Pirro para planejá-la e construía-la.
Assim vários prédios públicos e particulares foram erguidos a exemplo da Alfândega, Colégio Atheneu, Escola Normal dentre outros, lembrando do Mercado Central que fez parte desse processo de desenvolvimento dando a cidade um crescimento social, político e econômico muito importante no seu processo desenvolvimento desde o político ao religioso. 







REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


FERREIRA, Jurandyr Pires. MARTINS, Hildebrando. Enciclopédia dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Geografia, 1959

NUNES, Maria Thétis.Sergipe Provincial, II (1840-1889). Rio de Janeiro;mTempo Brasileiro; Aracaju, Se: Banco do Estado de Sergipe, 2006.

Revista de Aracaju/Prefeitura Municipal de Aracaju. Ano LXI.  Funcaju; 2005. Nº11.

 MEDINA, Ana Maria Fonseca. Ponte do Imperador. 2ª Edição. Aracaju/Se: Gráfica J. Andrade, 2005.

NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do, NASCIMENTO, Jorge Carvalho. Fontes para a história do poder legislativo da cidade de Aracaju: a primeira década de funcionamento da câmara de vereadores (1855-1865) – Aracaju: Criação, 2010.

Jornal “Diário Oficial”, nº 2337, 01 (domingo) de janeiro de 1928, pag. 12898, 12899,1 2900
Jornal “Diário Oficial”, nº 2354, 22 (domingo) de janeiro de 1928.
Jornal “Diário Oficial”, nº 2355, 24 (terça feira) de janeiro de 1928.



Notas de rodapé:

[1] Jornalista, historiador e diretor do Instituto Tobias Barreto e ex-secretário de Estado da Cultura. Escritor do Portal Infonet todos os sábados.

[2] Corresponde a gêneros relacionados a cargas e descargas de navios.

[3] Vísceras de animais.

[4] Hidróxido de potássio.
[5] Artistas de circo, como acrobatas e palhaços.